Piaget

 

1-    O desenvolvimento intelectual implica mudanças qualitativas. A criança não tem as mesmas aptidões que um adulto, por isso mesmo, há para Piaget uma diferença qualitativa entre o adulto e a criança quanto ao modo de funcionamento intelectual.

2-    O conhecimento é uma construção activa do sujeito. O desenvolvimento cognitivo não consiste na recepção passiva da informação proveniente do meio nem na pura e simples actualização de um potencial genético e na aplicação de estruturas e esquemas dados a priori. O construtivismo de Piaget supera quer o empirismo quer o inatismo. exceptuando os esquemas reflexos simples, apenas temos de inato a necessidade de conhecer, ou seja a adaptação ao meio( pelo conhecimento constrói-se estruturas para a tal adaptação). Tais estruturas formam-se através da actividade do sujeito no confronto com o meio. Construtivismo significa que, tendo em conta o processo de maturação, construímos a nossa compreensão da realidade.

3-    O desenvolvimento cognitivo é descontínuo, qualitativamente diferenciado, processando-se ao longo de momentos distintos denominados estádios. Segundo Piaget, pensamos e raciocinamos de forma qualitativamente diferente em diferentes fases do desenvolvimento intelectual. Todos percorremos uma sequência estruturalmente invariante de quatro períodos qualitativamente distintos, ou seja, não podemos saltar estádios nem passar por eles numa ordem diferente. Mesmo assim, pode variar a idade em que atingimos cada estádio. Esta organização do desenvolvimento em estádios significa que a ordem de progressão não varia e que todos os seres humanos seguem uma previsível série de transformações.

 

Factores gerais do desenvolvimento cognitivo

 

Primeiro factor, a hereditariedade, a maturidade interna. Este factor deve com certeza ser considerado sob todos os pontos de vista, mas é insignificante, porque não actua isolado.

Segundo factor, a experiência física, a acção sobre os objectos. Constitui também um factor essencial, que não se trata de subvalorizar, mas que por si só é insuficiente. A lógica da criança em especial, não vem da experiência dos objectos, mas sim das acções exercidas sobre os objectos, o que não é de maneira nenhuma a mesma coisa, pois a parte activa do indivíduo é muito importante, e não basta a experiência extraída do objecto.

Terceiro factor, a transmissão social, o factor educação no sentido lato. É determinante no desenvolvimento mas por si só insuficiente, porque para que haja uma transmissão entre adulto e criança, ou entre o meio social e a criança educada, é necessário que haja também uma assimilação pela criança do que se pretende inculcar-lhe de fora. Esta assimilação é sempre condicionada pelas leis deste desenvolvimento parcialmente espontâneo.

Há um quarto factor chamado equilibração, em que é necessário todo um jogo de regulações e de compensações para chegar a uma coerência. A equilibração é a compensação por reacção do indivíduo às perturbações exteriores, compensação que conduz à reversibilidade operatória no final deste desenvolvimento.

O desenvolvimento cognitivo, processando-se por estádios cuja ordem de sucessão é invariante e cujas aquisições são progressivamente mais complexas, é influenciado pela acção combinada dos factores indicados por Piaget.

Os factores explicativos do desenvolvimento cognitivo segundo Piaget são:

  • A hereditariedade e a maturação física : Piaget refere-se a mudanças biologicamente determinadas no desenvolvimento físico e neurológico que ocorrem de forma relativamente independente em relação às experiências.
  • A experiência : Piaget  entende que não é o simples registo passivo dos dados da experiência mas sim a  actividade do sujeito sobre os objectos (física e mental) que permite distingui-los e organizá-los. Através dessa actividade dá-se a formação de estruturas ou de esquemas que possibilitem a acção e a compreensão da realidade.
  • A transmissão social : Piaget refere-se ao processo através do qual somos influenciados não pela nossa actividade própria mas pelo contexto social, pela observação dos outros e pela educação.
  • A equilibração : Cada novo estádio define-se pelo surgimento de novos esquemas e estruturas (ou vice-versa) mais complexos. A equilibração  assegura formas de equilíbrio cada vez mais estáveis na adaptação ao meio.

Para Piaget o desenvolvimento cognitivo implica que a actividade do sujeito na interacção com o meio responda aos desequilíbrios cognitivos procurando atingir um estado de equilíbrio entre a assimilação e a acomodação, mecanismos de adaptação ao meio.

 

Como se processa o desenvolvimento cognitivo? Os instrumentos e os processos fundamentais.

Piaget, devido á sua formação em Biologia, via o desenvolvimento cognitivo á imagem dos processos biológicos. A necessidade de conhecer é um impulso inato, uma manifestação particular da necessidade de sobrevivência. Como necessitamos de uma adaptação ao meio para sobrevivermos, o desenvolvimento cognitivo é uma forma de adaptação ao meio. A adaptação cognitiva ao meio implica mudanças estruturais e funcionais que aumentem as probabilidades de sobrevivência do organismo individual. Existem quatro conceitos da teoria de Piaget sobre este processo adaptativo : o conceito de esquema, assimilação, acomodação e de equilibração.

 

Esquemas

 

Ao nascermos não temos nenhum conhecimento sobre as pessoas e aos objectos do mundo a que teremos que nos adaptar. Porém, adquirimos conhecimentos de forma progressiva, por mais simples que sejam no início. É a actividade reflexa que assinala o despontar da adaptação cognitiva. Esta faz-se através de esquemas baseados em reflexos inatos como por exemplo agarrar.

Os esquemas são padrões de comportamento e de pensamento que organizam a nossa interacção com o meio. São padrões de acção e estruturas mentais que, organizando a nossa experiência, estão envolvidas na aquisição de conhecimentos.

Nos primeiros meses de vida os esquemas baseiam-se em acções. Os objectos são agrupados conforme as acções que as crianças realizam. Ao experimentarem os objectos criam categorias de objectos que podem ter a mesma função. É a forma de as crianças marcarem mentalmente os objectos com os quais se relacionam.

 

Assimilação e acomodação

 

Os esquemas mudam constantemente ou consolidando-se ou transformando-se noutros mais complexos, adaptando o sujeito á sua crescente e cada vez mais diversificada interacção com o meio. Segundo Piaget a adaptação cognitiva ao meio implica a intervenção combinada de dois processos : a assimilação e a acomodação.

A assimilação é o processo que integra ou incorpora novas informações e experiências em esquemas já existentes. A assimilação verifica-se quando usamos esquemas existentes para dar sentido aos novos acontecimentos e experiências. Através da assimilação respondemos a uma nova situação de modo semelhante ao que adoptámos numa situação familiar, sem necessidade de modificar os esquemas existentes. Há assimilação quando um novo objecto ou situação suscita uma actividade que já faz parte do nosso reportório. Por exemplo, os bebés usam o esquema da sucção não só para se alimentarem como também para chuchar no dedo. Quando temos de alterar os esquemas existentes para responder a uma nova situação dá-se a acomodação. A acomodação é o processo de ajustamento dos esquemas existentes (ou de criação de novos) quando as novas informações e experiências não podem ser assimiladas. Se os dados não podem ser incorporados nos esquemas existentes é necessário o desenvolvimento de esquemas ou estruturas mais apropriadas. Por exemplo, a criança que aprendeu a agarrar diversos objectos de pequena dimensão com uma mão rapidamente se apercebe que outros só podem ser agarrados com as duas mãos, e até que alguns não podem ser levantados. Piaget afirmou que não existe assimilação sem acomodação. Queria dizer que mesmo quando assimilamos tal actividade exige um mínimo de acomodação. Um esquema como o da sucção utilizado para tirar leite de um biberão pode ter de sofrer ligeiras alterações quando se muda de tetina e esta tem outra dimensão e formato. Em suma, adaptamo-nos a diversas e cada vez mais complexas situações usando os esquemas existentes sempre que estes se revelam funcionais e dão sentido aos novos dados (assimilação) e modificando os esquemas utilizados sempre que a resposta às situações o exigir (acomodação).

 

A equilibração e o desenvolvimento cognitivo

 

O desenvolvimento cognitivo tem como fundamento o desejo natural de assegurar um estado de equilíbrio interno face a um meio em constante transformação. A procura ou tentativa de obter esse estado de equilíbrio chama-se equilibração. Que equilíbrio se procura? O equilíbrio entre acomodação e assimilação. Mas a procura do equilíbrio não é sinónimo de estagnação, pois é o motor do desenvolvimento cognitivo porque conduz a níveis superiores de adaptação. O desequilíbrio cognitivo é uma espécie de conflito interno que motiva o sujeito para a aquisição de novas competências e conhecimentos, de novos esquemas e estruturas cognitivas.

Piaget dividiu o desenvolvimento cognitivo em quatro grandes estádios, caracterizados por níveis de adaptação qualitativamente distintos que são possíveis devido ao progressivo surgimento de novos esquemas, construídos a partir das experiências do sujeito em estádios precedentes.

 

Os estádios do desenvolvimento cognitivo

 

No seu estudo do processo de adaptação em que o desenvolvimento intelectual consiste, Piaget distinguiu períodos qualitativamente diferentes a que chamou estádios. São quatro os estádios do desenvolvimento cognitivo ou intelectual:

Estádio da inteligência sensório-motora (do nascimento aos 2 anos)

Estádio da inteligência pré- operatória (dos 2 anos aos 7 anos)

Estádio das operações concretas (dos 7 anos aos 11 anos)

Estádio das operações formais ou abstractas ( dos 11 anos em diante)

As idades são aproximativas porque pode haver diferença quanto á altura em que cada criança muda de um estádio para o outro. Porém, as diferenças cronológicas não significam que não haja uma sequência ordenada e constante. Se aos 20 meses se pode estar no estádio pré operatório, a ordem de sucessão é igual para todos os indivíduos.

 

O estádio sensório-motor

 

O primeiro estádio do desenvolvimento cognitivo é assim denominado porque a inteligência da criança desenvolve-se através de acções motoras e de actividades perceptivas (baseadas nos sentidos) que captam impressões sensoriais. Piaget considerava que este período, em que ocorre um extraordinário desenvolvimento intelectual, era decisivo para todo o seguimento da evolução psíquica. O estádio sensório-motor é o período em que a inteligência é totalmente prática. O desenvolvimento cognitivo inicia-se com esquemas de acção reflexa, tais como agarrar e chuchar. Por terem flexibilidade, estes esquemas rapidamente sofrem modificações e ajustamentos (acomodação) em resposta ás diversas experiências. Progressivamente a criança constrói o seu reportório de actividades, os esquemas tornam-se menos reflexos. Assim, a criança acomoda a sua boca de modo diferente conforme os objectos : levar a ponta do lençol á boca não é o mesmo que chuchar no dedo. Estas actividades simples assinalam o começo do reconhecimento dos objectos do mundo. Do 1º ao 4º mês as actividades da criança centram-se principalmente no seu próprio corpo. Por exemplo agitar os braços é algo que cativa a atenção da criança. Do 4º ao 8º mês desenvolve-se a coordenação entre as actividades perceptiva e motora. Já consegue agarrar um objecto que avistou e está ao seu alcance. O mundo dos objectos externos que constituem o seu ambiente desperta o interesse da criança, e as actividades já não são centradas no seu corpo. Contudo os novos comportamentos não são produzidos deliberadamente, ou seja, a criança ainda não escolhe um esquema como meio para atingir um fim. Descobre as coisas por acaso. Do 8º ao 12º mês aperfeiçoa-se a coordenação motora (a conexão entre os esquemas motores). A acidental ocorrência de novos comportamentos dá lugar ás primeiras formas de comportamento intencional, despontando a originalidade no confronto com obstáculos. Em vez de um simples prolongamento de actividades interessantes, assistimos agora a um uso intencional dos esquemas para atingir um objectivo. Através de uma assimilação generalizada um comportamento aprendido numa determinada altura é utilizado numa nova situação, diferente mas suficientemente parecida para que o comportamento aprendido seja apropriado aos interesses da criança. Do 12º ao 18º mês desponta o comportamento de tipo experimental. No sub-estádio anterior a criança era capaz de combinar esquemas intencionalmente, mas somente conseguia combinar um par de cada vez e unicamente quando ocorria uma situação propícia ao uso dessa combinação. Agora e como resultado do desenvolvimento da capacidade de coordenação dos esquemas, já não se trata de repetição de antigos esquemas com novos objectos. Se uma acção produz o resultado desejado, não será simplesmente repetida mas modificada de modo a verificar que outros efeitos podem dela resultar. Com a planificação que minimamente é necessária a estes comportamentos experimentais é também exigida uma crescente aptidão para representar objectos e situações. Do 18º ao 24º mês entra-se numa fase de transição. Podemos dizer que termina o estádio sensório-motor e se inicia o estádio pré-operatório ou do pensamento representativo. Que acontecimento marca o fim do estádio sensório-motor? O desenvolvimento completo da noção de permanência do objecto. Até aos 8 meses a criança não tem noção que um objecto continue a existir independentemente da sua acção e da sua percepção. Fora de vista significa assim fora da existência. Quando um brinquedo desaparece do campo de visão da criança é como se tivesse deixado de existir, e quando aparece é como se tivesse sido recriado. O conceito de permanência do objecto é lentamente construído a partir dos 8 meses como resultado da crescente interacção motora, perceptiva e sensorial da criança com o meio, mas também devido á maturação do sistema nervoso. Por volta dos 18 meses estará plenamente adquirida a convicção de que fora do alcance não significa fora da existência nem fora do pensamento. Nesta fase a criança será capaz de antecipar mentalmente os resultados de uma acção sem recorrer á experimentação ou manipulação material dos objectos.

Qual o significado desta aquisição? O que está nela implícito? O nascimento da capacidade de representação simbólica que torna possível pensar e falar de objectos que estão fora do campo da sua percepção imediata. Assinalando os limites funcionais dos esquemas sensório-motores e por isso o fim do estádio da inteligência prática, a capacidade de representação simbólica permite formar imagens mentais de objectos e acções quando aqueles não estão presentes e estas não ocorrem efectivamente. Assim pessoas e acontecimentos que a criança presenciou serão imitados posteriormente. Piaget denominou imitação diferida a este comportamento. A capacidade de simbolização é um acontecimento notável porque com ela surgem e desenvolver-se-ão o pensamento e a linguagem. Além disso possibilitando a ultrapassagem do egocentrismo sensório-motor, isto é, a crença ilusória de que a existência dos objectos depende das acções do sujeito, abre o caminho á formação de um auto-conceito : a criança apercebe-se de que a existência estável não é simples atributo dos objectos e das outras pessoas mas também seu.

 

O estádio pré-operatório

 

A capacidade de representação simbólica assinala o termo do estádio sensório-motor e o começo do estádio pré-operatório, que é marcado pelo início do pensamento. A criança começa a desenvolver a capacidade de representar mentalmente objectos ausentes. Não se limita a agir sobre eles mas representa-os, substitui-os por símbolos que valem por esses objectos. Da inteligência prática passamos á inteligência representativa ou pensamento.

Piaget considera que este estádio é constituído por 2 períodos distintos:

A fase do pensamento pré-conceptual centrado na imaginação e por ela dominado (dos 2 aos 4 anos)

A fase do pensamento intuitivo centrado na percepção dos dados sensoriais e a ela submetido (dos 4 aos 7 anos)

A característica geral do pensamento pré-operatório e a razão de ser das suas limitações é a centração ou egocentrismo. Ao longo deste estádio o pensamento egocêntrico vai-se atenuando mas não o suficiente para que dê lugar ao pensamento lógico ou dotado de reversibilidade.

 

O pensamento pré-conceptual

 

Nesta fase as crianças parecem pouco preocupadas com a realidade, sendo o seu mundo bastante imaginativo. O pensamento é dominado pela imaginação, isto é, a relação da criança com a realidade centra-se na sua imaginação, desejos e fantasias. Esta omnipresença da imaginação e da fantasia permite compreender que o pensamento pré-conceptual seja essencialmente um pensamento mágico que transforma o imaginário em realidade. O egocentrismo da fase pré-conceptual significa que há uma incapacidade em distinguir claramente acontecimentos psicológicos de acontecimentos físicos ou externos, o que traduz uma significativa indiferenciação entre o sujeito e a realidade exterior. Várias características mentais resultam do predomínio do pensamento mágico :

O animismo – tendência para atribuir aos objectos qualidades psicológicas.

O realismo – tendência para atribuir a realidades psicológicas uma existência física.

O artificialismo – tendência para acreditar que os objectos físicos ou naturais foram feitos por pessoas.

O finalismo – tendência para acreditar que nada acontece por acaso e que tudo tem uma justificação, existe em função do fim que cumpre.

 

O pensamento intuitivo

 

Neste período pré-operatório há uma redução do egocentrismo porque o pensamento já não é dominado pela imaginação mas sim pela percepção. Contudo o egocentrismo continua a condicionar o funcionamento intelectual. Há várias evidências dessa continuidade:

O raciocínio pré-causal – traduz a dificuldade de entendimento das relações causa-efeito.

Dificuldade em distinguir uma classe de objectos de um único objecto. Confunde o todo com uma das suas partes, o geral com o particular, identificando todos com alguns. Prevalece o raciocínio transdutivo, isto é, não abandona o plano do particular, não atinge o conceito geral.

Piaget afirmava que antes dos 7 anos a classificação de objectos quanto a múltiplos aspectos e a compreensão das relações entre classes ultrapassavam a competência das crianças. Noutros termos, o pensamento pré-conceptual somente será superado quando surgir o pensamento lógico.

O pensamento pré-operatório é caracterizado pela irreversibilidade isto é, pela incapacidade de mentalmente inverter uma sequência de factos e de operações regressando ao ponto de partida. Por isso, há dificuldades evidentes em compreender conceitos como a conservação da quantidade, do volume ou do número.

 

O estádio das operações concretas

 

A característica mais importante é que o pensamento e o raciocínio ultrapassam a fase pré-lógica. Surge uma forma de pensar qualitativamente distinta porque a actividade intelectual já não se submete aos dados da intuição mas sim a regras lógicas. Contudo, mesmo não sendo a percepção a comandar o funcionamento intelectual, ainda é um ponto de referência indispensável, pois o pensamento lógico ainda não se separou da realidade concreta. No estádio das operações concretas, as operações lógicas efectuam-se sobre objectos e eventos presentes ou pelo menos dos quais já se teve experiência. A aquisição do conceito de conservação – a capacidade de mentalmente representar a estabilidade no seio da mudança, é o sinal de que a fase pré-operatória foi ultrapassada. O conceito de conservação é compreendido enquanto aplicado a um determinado objecto concreto e não como aplicação de uma regra geral, aplicável a qualquer objecto. Para tal é necessário que o raciocínio dedutivo se desenvolva. Segundo Piaget as aquisições do estádio das operações concretas derivam de uma transformação estrutural no modo de pensar denominada descentração. A descentração significa que se é capaz de considerar mais do que um atributo de um objecto e de formar conceitos segundo vários critérios. Não se centrando numa única propriedade de um objecto a criança adquire a noção de conservação, isto é, compreende que alterações em dada dimensão podem ser anuladas, ou melhor compensadas em outra dimensão. Esta capacidade de mentalmente anular uma mudança aparente significa que o pensamento se tornou reversível. A noção de necessidade lógica desenvolve-se claramente, assistindo-se a um acentuado declínio do egocentrismo. A reversibilidade dos esquemas mentais possibilita também a compreensão do conceito de causa e o raciocínio causal. A classificação é outra operação dominada durante este estádio. Organizar uma colecção de selos é um exemplo dessa aquisição. A seriação é outra das aquisições do estádio das operações concretas e corresponde á ordenação sequencial de objectos segundo um critério. Durante este período do desenvolvimento cognitivo começa a formar-se o raciocínio lógico indutivo, o processo cognitivo que consiste em atingir um princípio geral a partir dos dados empíricos particulares. Contudo o pensamento lógico neste estádio ainda está demasiado preso á realidade concreta e física. É um tipo de pensamento cujo funcionamento lógico se baseia em situações e objectos concretos que podem ser manipulados, classificados e organizados. O pensamento lógico- abstracto hipotético- dedutivo baseado em hipóteses possibilidades e princípios gerais ainda está a caminho.

 

Estádio das operações formais

 

A característica distintiva deste estádio é o pensamento formal, hipotético-dedutivo. O indivíduo passa a deduzir conclusões a partir de hipóteses e já não apenas da realidade concreta. Pode agora considerar estados hipotéticos que podem ser ou não reais, e pensar de forma dedutiva o que aconteceria se fossem verdadeiros como seriam as coisas se certas possibilidades se tornassem realidade. A abertura do pensamento ao possível amplia as suas próprias possibilidades de exercício. A aptidão para aplicar operações mentais a situações hipotéticas desenvolve o pensamento abstracto e conduz o adolescente a elaborar teorias, mais ou menos sistematizadas, sobre entidades abstractas como a justiça, a liberdade, a felicidade, a moralidade, o amor. A distinção entre o real e o possível dá origem a debates sobre questões morais e filosóficas, a imaginar mundos diferentes e diferentes ocupações na vida e a questionar a realidade, sob múltiplos aspectos, tal como ela é.

 

 

in: Sebenta de Psicologia do 1º ano

sinto-me:
publicado por olharovazio às 18:45