Aldeia dos Pequeninos

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Sábado, 04 / 12 / 10

Estádios de desenvolvimento psicossocial de Erikson

Erikson


O conceito de desenvolvimento psicossocial


Valorizando a interacção entre o indivíduo e o meio sociocultural ao longo de todo o ciclo vital, Erikson entende que o desenvolvimento socioafectivo abrange oito estádios ou idades. Erikson

Construiu a sua teoria a partir de algumas ideias básicas de Freud, tais como a importância da infância no desenvolvimento pessoal, a existência de 3 estruturas psíquicas fundamentais (Ego, Id e Superego) e de impulsos e motivações inconscientes. Sustentou que a tarefa fundamental da existência é a construção da identidade pessoal. Segundo Erikson a identidade pode ser concebida como a imagem mental relativamente estável da relação entre o eu e o mundo social nos vários contextos e momentos do processo de socialização. Ao contrário de Freud, a formação da identidade pessoal é um processo que percorrendo diversos estádios, dura toda a vida. Cada estádio reconfigura e reelabora o estádio anterior a partir do qual emerge. Cada estádio distingue-se por uma tarefa específica que o indivíduo deve cumprir de modo a transitar para o estádio seguinte. Para Erikson essas tarefas têm o nome de crises porque são fontes de conflito interior. A identidade pessoal de cada pessoa forma-se de acordo com a maneira como resolve essas crises. Erikson acreditava que cada crise é estimulante, dá ao indivíduo uma sucessão de potencialidades, novas formas de experienciar e de interagir com o mundo. A personalidade modifica-se e altera-se em virtude do contacto com um conjunto cada vez mais amplo de agentes sociais. A crise que pode ser relativamente longa, designa mais a crucial importância do que está em jogo do que uma pressão temporal, uma urgência. Cada crise é uma luta entre alcançar uma qualidade psicológica ou falhar esse objectivo, ou seja, cada conflito confronta duas possibilidades como pares de qualidades psicológicas. Um dos pares é adaptativo e o outro designa um certo grau de desadaptação. A superação bem sucedida do grande desafio que cada estádio coloca não significa que não tenhamos de voltar a enfrentá-lo, sinal de que nunca é absolutamente resolvido. A nossa odisseia ao longo da vida significa enfrentar novos desafios, e em certa medida revisitar antigos conflitos.

 

Os estádios do desenvolvimento psicossocial.

 

Relativamente ao desenvolvimento, Erikson propõe um conjunto de estádios cuja singularidade se deve ao conflito neles vivido. O conflito consiste numa polaridade emocional que tem uma vertente positiva e uma vertente negativa. Um desenvolvimento equilibrado e bem sucedido depende da resolução conveniente do conflito próprio de cada estádio, de modo a que a vertente positiva predomine. Resolver positivamente cada crise é decisivo para a constituição de uma personalidade bem adaptada capaz de enfrentar equilibradamente os desafios e problemas em que a existência é fértil. Erikson dividiu o desnvolvimento em oito estádios psicossociais a que chamou “idades da vida”.

 

 

 

 

1ª Idade – Confiança versus Desconfiança (do nascimento aos 18 meses)


Neste primeiro estádio, o recém-nascido depende totalmente dos outros para satisfazer as suas necessidades. Se receber amor daqueles que constituem o meio envolvente imediato (pais, irmãos) e as suas actividades de descoberta forem encorajadas e estimuladas de modo equilibrado, o bebé desenvolverá confiança não só nos outros como em si mesmo. Se receber pouco amor e atenção aprenderá a não ter confiança nem em si nem nos outros. Para Erikson, a interacção do bebé com a mãe é decisiva na forma como se resolve o conflito ou a tensão entre confiança e desconfiança. O desenvolvimento de um sentimento de desconfiança demasiado acentuado tornará a criança tímida, retraída, insegura quanto ás suas capacidades e pouco á vontade no confronto com os obstáculos do meio. Se a vertente positiva triunfa ou predomina, a virtude (qualidade do Ego) que se desenvolve é a esperança.

 

2ª Idade – Autonomia versus Dúvida e Vergonha ( dos 18 meses aos 3 anos)


Este estádio coloca a criança perante uma difícil questão crucial : “ Será que consigo fazer as coisas por mim próprio ou tenho de depender quase sempre dos outros?”. Trata-se da segunda crise psicossocial com a qual o indivíduo se confronta. Terá de aprender a lidar com a dúvida e a vergonha para conquistar a autonomia. Nesta fase, autonomia significará adquirir um relativo controlo de algumas funções orgânicas, um certo domínio da coordenação motora, capacidade de manipulação de objectos. A criança que no estádio anterior desenvolveu um sentimento de confiança em si mesma e nas pessoas que dela cuidavam terá provavelmente mais facilidade em conquistar a autonomia, isto é, em afirmar e exercer a sua vontade própria. As “birras”, os constantes porquês, são manifestações típicas de autonomia tal como a vontade de querer fazer as coisas sozinho mesmo que não seja ainda competente. O modo como os pais reagem é muito importante : demasiadas críticas, punições e repreensões podem contribuir para que a criança se sinta envergonhada. Por outro lado, repetidos fracassos podem contribuir para que a criança duvide da sua capacidade para fazer certas coisas por si própria. Erikson pensava que os pais deviam conseguir dosear de forma equilibrada a assistência á criança e o encorajamento da exploração do meio por si própria. Se a vertente positiva predomina adquire-se uma qualidade psicológica ou virtude chamada força de vontade.

 

3ª Idade – Iniciativa versus Culpa (dos 3 aos 6 anos)


Erikson dá a este estádio o nome de locomotor-genital considerando também que é a idade do jogo simbólico e da brincadeira. A grande questão que a criança enfrenta é esta : “Serei bom ou mau?”. Enquanto no estádio anterior a grande preocupação se centrava naquilo que era capaz de fazer, agora a criança em idade pré-escolar, preocupa-se com a moralidade ou aceitabilidade dos seus comportamentos. Nesta fase assiste-se a um significativo desenvolvimento das habilidades motoras, da linguagem e do pensamento, tal como da imaginação e da curiosidade. Objecto de curiosidade especial são o corpo e as diferenças entre os sexos. Segundo Erikson é a fase da sexualidade infantil, admitindo na linha de Freud que há atracção pelo progenitor do sexo oposto. A reacção dos pais á curiosidade da criança é um factor determinante quanto ao grau de autoconfiança e de iniciativa que ela irá desenvolver. Reacções extremamente negativas podem provocar inibição excessiva, sentimentos de culpa e ansiedade. A criança sentirá que a sua curiosidade não é bem vinda e terá pouca iniciativa no que respeita á exploração do meio. A resolução bem sucedida desta crise psicossocial reforça a capacidade de iniciativa, a vivacidade e o gosto pela descoberta. A virtude desenvolvida é a tenacidade.

 

4ª Idade – Indústria versus Inferioridade (dos 6 aos 12 anos)


Este estádio é denominado por Erikson por estádio de latência. A questão-chave que a criança em idade escolar enfrenta é :”Serei competente ou incompetente?”. Por indústria entende Erikson engenho, competência e produtividade no cumprimento de determinadas tarefas. Com a escolaridade alarga-se o campo da interacção social, novos desafios surgem e intensifica-se a aprendizagem social. Novas competências são exigidas á criança (aprender a ler, escrever). Será apreciada não tanto pelo que é mas pelo que faz, pelo grau de competência no desempenho de tarefas. O fracasso relativamente persistente no desenvolvimento de competências, ou a falta de apoio, de incentivo e de atenção da parte dos agentes educativos podem gerar sentimentos de inferioridade, descrença quanto á capacidade para executar tarefas de forma produtiva. A tendência será então a de dedicar pouco esforço e entusiasmo a determinados trabalhos porque se acredita na inevitabilidade do fracasso. Apesar de o fracasso em determinadas áreas poder ser compensado pelo reconhecimento noutras, a verdade é que há uma enorme vontade de aprender, de desenvolver sentimentos de competência, de pensar que se é capaz de fazer bem várias coisas. O sucesso eleva a auto-estima, a autoconfiança, o prazer e o gosto nas actividades. É nesta fase do desenvolvimento psicossocial que as crianças começam a imaginar ocupações e papeis sociais futuros (médicos, professores). A resolução bem sucedida do conflito psicossocial típico destas idades em que as crianças se comparam umas com as outras apercebendo-se do seu nível de competência e de produtividade reforça a confiança, a espontaneidade e a autonomia na relação com os outros e com as novas imposições sociais. A virtude ou qualidade psíquica daí resultante é a competência, a habilidade intelectual e a perícia no cumprimento das tarefas valorizadas em determinada sociedade.

 

5ª Idade –Identidade versus Difusão ou Confusão de Papeis (dos 12 aos 20 anos)


Este estádio do desenvolvimento psicossocial cobre o período da adolescência. A questão chave :”Quem sou eu? O que irei ser?” é própria do jovem que começa a tomar consciência da sua singularidade, de que é um ser humano único a preparar-se para desempenhar vários papéis no meio social. É a época da vida em que a consciência do que somos no presente é acompanhada pelo desejo do que queremos ser no futuro. A procura da independência em relação aos pais dinamiza o desenvolvimento social e afectivo do adolescente. A construção da identidade pessoal implica a integração coerente de aspectos intelectuais, sociais, sexuais e morais. A integração de vários papéis num padrão coerente que exprima um sentimento de continuidade e de identidade é tarefa difícil, conflituosa. Essa dificuldade é visível nas oscilações quanto a opções ideológicas, estéticas, religiosas e morais. A crise de identidade exprime a dificuldade em encontrar uma identidade ocupacional e um lugar conveniente no seio da sociedade, traduzindo o carácter problemático da transição da infância para a idade adulta. A resolução da crise de identidade ocorre quando o adolescente é apoiado e encorajado para procurar resposta aos seus problemas por si mesmo. A virtude adquirida no final deste estádio é a fidelidade, em que o adolescente aceita responsavelmente compromissos. Sem um sentimento construtivo de fidelidade, o jovem terá um ego fraco, sofrerá de confusão de valores e será em grande parte o que os outros decidirem que ele seja. A fidelidade é portanto fidelidade a si próprio, ás suas escolhas e opções, afirmação de si mesmo no que faz e no que projecta fazer.

 

6ª Idade – Intimidade versus Isolamento (dos 20 aos 30 anos)


O sexto estádio do desenvolvimento psicossocial é marcado, segundo Erikson pela preocupação em estabelecer relações íntimas duráveis com outras pessoas. A questão principal deste estádio é : “Deverei partilhar a minha vida com outra pessoa ou deverei viver sozinho?”. Erikson dá á intimidade o sentido de fusão da identidade de um indivíduo com o outro. A intimidade designa a capacidade de desenvolver uma relação profunda e significativa com outra pessoa. Para que isso efectivamente aconteça o indivíduo deve ter resolvido as crises psicossociais anteriores e sentir-se seguro acerca de quem é e do que quer da vida, sabendo conciliar a vertente profissional com a dimensão afectiva. Em geral, a incapacidade de entrega e de fidelidade a uma relação, de partilhar afectos, pode levar ao isolamento, á solidão, á sensação de que falta algo para ser completo, embora ficar sozinho não seja sinal de fracasso afectivo. A capacidade de amar é a virtude ou força do Ego neste estádio. O jovem adulto neste estádio é capaz de transformar o amor recebido enquanto criança e adolescente em devoção e entrega. Para Erikson, a efectiva intimidade implica a capacidade de se comprometer profundamente em relações que exigem sacrifício e fidelidade. A virtude fundamental do jovem adulto é o amor, uma devoção mútua a madura.

 

7ª Idade – Generatividade versus Estagnação (dos 30 aos 60 anos)


A questão chave deste estádio pode formular-se de vários modos : “Serei bem sucedido na minha vida afectiva e profissional?”, “Produzirei algo com verdadeiro valor?”, “Conseguirei contribuir para melhorar a vida dos outros?”. A generatividade designa a possibilidade de ser criativo e produtivo em verias áreas da vida. Bem mais do que criar e educar os filhos traduz uma preocupação com o bem-estar das gerações vindouras, uma descentração e expansão do Ego empenhado em tornar o mundo um melhor lugar para viver. A generatividade manifesta-se na produção de ideias, no exercício de uma profissão, no cuidado dos outros, etc. Se a expansão e descentração do Ego não ocorre, o indivíduo pode, segundo Erikson, estagnar, preocupar-se quase só consigo mesmo e com a posse de bens materiais. A estagnação será portanto ausência de doação, egoísmo. A virtude própria da meia idade é o cuidado, a preocupação com os outros, o fazer algo por alguém.

 

8ª Idade – Integridade versus Desespero (a partir dos 60 anos)


No estádio final da vida, a questão chave :”Teve a minha vida sentido ou falhei?” assinala que chegou a hora do balanço, da avaliação do que se fez na vida e sobretudo do que se fez da vida. Na dualidade emocional ”integridade versus desespero”, a integridade significa que o indivíduo avalia positivamente o seu percurso vital mesmo que nem todos os seus desejos e sonhos se tenham realizado e esta satisfação prepara-o para aceitar a deterioração física e a inevitável morte como termo de algo que valeu a pena. As pessoas que consideram a sua vida mal sucedida, demasiado centrada em si mesma, pouco produtiva, que lamentam as oportunidades perdidas e sentem ser já demasiado tarde para se reconciliarem consigo próprias corrigindo erros cometidos, podem ceder á angústia e ao desespero. A virtude a desenvolver neste estádio é a sabedoria, a consciência de que, dadas as circunstâncias e as nossas potencialidades, não vivemos em vão.

 

in: Sebenta de Psicologia do 1º ano

sinto-me:
publicado por olharovazio às 21:25
Sexta-feira, 03 / 12 / 10

Estádios de desenvolvimento psicossexual de Freud

Freud


Os estádios do desenvolvimento psicossexual


Segundo Freud, o impulso sexual e a procura do prazer erótico determinam de forma poderosa o desenvolvimento afectivo do ser humano. Os diversos estádios do desenvolvimento são, por isso mesmo, englobados na designação de estádios psicossexuais. Em cada estádio a fonte de prazer é uma zona diferente do corpo. O que entende Freud por prazer sexual ou erótico? Toda a sensação agradável cuja fonte é um determinado órgão ou região corporal. A sexualidade não se reduz nem á manipulação nem ao contacto genital. Somente no final do desenvolvimento psicossexual se impõe a sexualidade genital com a maturação dos órgãos genitais na sequência das transformações fisiológicas da puberdade. São 5 os estádios do desenvolvimento psicossexual : oral, anal, fálico, latência e genital.

 

O estádio oral (do nascimento aos 12/18 meses)


Durante os primeiros meses de vida grande parte da interacção da criança com o mundo externo processa-se através da boca e lábios. A satisfação sexual centra-se nessa área. A relação com a mãe assume especial significado, estabelecendo-se essencialmente através do seio materno que não simplesmente alimenta mas também dá prazer. É levando os objectos á boca que o bebé explora o meio envolvente. A sucção necessária á alimentação, emancipa-se progressivamente dessa função, tornando-se por si mesma uma fonte de prazer, de gratificação sexual. Com a dentição, a actividade oral diversifica-se, morder e mastigar enriquecem a panóplia de formas de exploração oral, agora mais agressiva, dos objectos. As actividades orais são também fonte de potenciais conflitos. O conflito mais significativo deste estádio tem a ver com o processo de desmame. Uma excessiva frustação dos impulsos erógenos ou um excesso de satisfação desses mesmos impulsos podem conduzir a um resultado semelhante : a fixação. Por fixação no estádio oral entenda-se ficar psicologicamente preso a formas de obtenção do prazer que se centram na boca, lábios e língua.

 

O estádio anal (dos 12/18 meses aos 3 anos)


A partir do primeiro ano de vida a principal fonte de prazer erótico passa a ser o ânus, embora a estimulação oral continue a dar prazer. Durante este período do desenvolvimento psicossexual, o prazer sexual deriva da estimulação do ânus ao reter e expelir as fezes. A experiência marcante no estádio anal consiste em aprender a controlar os músculos envolvidos na evacuação. A criança terá de aprender que não pode aliviar-se onde e quando quer, que há momentos e lugares apropriados para tal efeito. Pela primeira vez constrangimentos externos limitam e adiam a satisfação dos impulsos internos. O princípio de realidade conjuga-se com o princípio de prazer. A necessidade de adquirir hábitos higiénicos e de controlar as pulsões do Id, mostra que o Ego já se formou. O confronto com as imposições paternas, o medo de ser punido e o desejo de agradar aos pais mostram que o Superego está a formar-se. Se a regulação dos impulsos biológicos da criança é demasiado exigente e severa, esta pode reagir aos métodos repressivos retendo as fezes. Se este modo de reagir for generalizado a outros comportamentos estamos perante um carácter anal-retentivo. Esta fixação pode dar origem a um indivíduo caracterizado pela teimosia, mania da pontualidade, avareza, egoísmo, e pela obsessão com a ordem e a limpeza. Mas a criança pode reagir ás excessivas exigências de higiene e limpeza de uma outra forma : em vez de reter as fezes e de infligir sofrimento a si própria, revolta-se contra a dureza e repressão do treino, expelindo-as nos momentos menos apropriados. É o caso do carácter expulsivo-anal. Esta fixação pode dar origem a uma pessoa cruel, com assomos de fúria, irritabilidade, sadismo, tendências violentas e também desorganização. Contudo se o treino da criança não assumir aspectos repressivos, se os pais adoptarem uma estratégia firme mas suave, aplaudindo o controlo apropriado das funções excretoras, a criança formará a noção de que a defecação é uma actividade importante, digna de apreço. Freud afirma que esta ideia é a base da criatividade, produtividade, entrega positiva e generosidade.

 

O estádio fálico (dos 3 aos 6 anos)


Durante o estádio fálico, os órgãos genitais tornam-se o centro da actividade erótica da criança através da auto-estimulação. É o período em que muitas crianças começam a masturbar-se, a aperceber-se das diferenças anatómicas entre os sexos e de que a sexualidade faz parte das relações entre as pessoas. No estádio fálico, numa primeira fase, a sexualidade da criança é ainda de natureza auto-erótica. Dedicando bastante tempo a examinar o seu aparelho genital, a criança manifesta curiosidade extrema por questões sexuais apesar dessa curiosidade ultrapassar a sua capacidade de compreensão. Não tendo uma noção clara da ligação entre os órgãos genitais e a função reprodutiva, elaboram fantasias e crenças acerca do acto sexual e do processo de nascimento que são completamente desadequadas. Assim, podem pensar que uma mulher engravida porque comeu o seu bebé e que o nascimento consiste em expeli-lo pela boca. O acto sexual é frequentemente considerado um acto agressivo. Os prazeres da masturbação e as fantasias da criança na sua actividade auto-erótica, constituem a base para uma importante mudança de direcção da libido, dos impulsos libidinais. Segundo Freud, a criança a partir de certa altura desenvolve uma forte atracão sexual pelo progenitor do sexo oposto e sentimentos agressivos em relação ao do mesmo sexo. No caso dos rapazes, o desejo de afastar o pai e de ficar com a mãe, é um conflito incosciente denominado complexo de Édipo. Este desejo pode provocar sentimentos de culpa, por desejar ver o pai desaparecer, mas também de medo, pois receia que o pai o castigue, castrando-o. A este receio Freud deu o nome de complexo de castração. Freud sublinha ainda que a repressão do complexo de Édipo, ou mais propriamente a sua ultrapassagem marca a etapa final do desenvolvimento do Superego. No caso das raparigas, o objecto original do afecto é substituído por outro, o pai. Isto acontece porque a rapariga fica desapontada por não ter o mesmo órgão sexual que os rapazes, sentindo-se “castrada”, e responsabiliza a mãe por isso. Este sentimento é definido por Freud com “inveja do pénis”. O desprezo e o ressentimento marcarão a relação com a mãe nesta fase. É a versão feminina do complexo de Édipo, designada como complexo de Electra. Este complexo é mais difícil de resolver pois a sociedade reprime menos este sentimento em relação ao pai, e o sentimento de inferioridade dificulta a identificação plena com a mãe.

 

Estádio de latência (dos 6 aos 11 anos)


O estádio de latência é o período da vida marcado por um acontecimento significativo : a entrada na escola e a ampliação do mundo social da criança. Recalcadas no inconsciente, as conturbadas experiências emocionais do estádio fálico parecem não a perturbar. Esta amnésia infantil liberta a criança da pressão dos impulsos sexuais. A curiosidade da criança centra-se agora no mundo físico e social. A energia libidinal é convertida em interesse intelectual e canalizada para as actividades escolares, entre outras. Há um reforço da identidade sexual da criança devido aos grupos de pares serem constituídos quase sempre por crianças do mesmo sexo. A ultrapassagem deste estádio é bem sucedida se a criança desenvolver um certo grau de competência nas actividades que a atraem e naquelas que lhe são socialmente impostas. No final deste estádio o aparelho psíquico está completamente formado.

 

Estádio genital (após a puberdade)


Na adolescência, em virtude da maturação do aparelho genital e da produção de hormonas sexuais, renascem ou reactivam-se os impulsos sexuais e agressivos. Em estádios anteriores, o indivíduo obtinha satisfação através da estimulação de determinadas zonas do seu corpo. Embora no estádio fálico a sexualidade auto-erótica comece a ser superada, ela ainda não está orientada de uma forma realista e socialmente aprovada. Manifesta-se para ser reprimida. O estádio genital é um período em que conflitos de estádios anteriores podem ser revividos. Freud dá importância especial á reactivação do complexo de Édipo e á sua liquidação. A passagem da sexualidade infantil á sexualidade madura exige que as escolhas sexuais se façam de forma realista e segundo a norma cultural, fora do universo familiar, sendo os pais suprimidos enquanto objectos da libido ou do impulso sexual.

 

in: Sebenta de Psicologia do 1º ano

sinto-me:
publicado por olharovazio às 22:31
Quarta-feira, 01 / 12 / 10

Estádios de desenvolvimento cognitivo de Piaget

Piaget

 

1-    O desenvolvimento intelectual implica mudanças qualitativas. A criança não tem as mesmas aptidões que um adulto, por isso mesmo, há para Piaget uma diferença qualitativa entre o adulto e a criança quanto ao modo de funcionamento intelectual.

2-    O conhecimento é uma construção activa do sujeito. O desenvolvimento cognitivo não consiste na recepção passiva da informação proveniente do meio nem na pura e simples actualização de um potencial genético e na aplicação de estruturas e esquemas dados a priori. O construtivismo de Piaget supera quer o empirismo quer o inatismo. exceptuando os esquemas reflexos simples, apenas temos de inato a necessidade de conhecer, ou seja a adaptação ao meio( pelo conhecimento constrói-se estruturas para a tal adaptação). Tais estruturas formam-se através da actividade do sujeito no confronto com o meio. Construtivismo significa que, tendo em conta o processo de maturação, construímos a nossa compreensão da realidade.

3-    O desenvolvimento cognitivo é descontínuo, qualitativamente diferenciado, processando-se ao longo de momentos distintos denominados estádios. Segundo Piaget, pensamos e raciocinamos de forma qualitativamente diferente em diferentes fases do desenvolvimento intelectual. Todos percorremos uma sequência estruturalmente invariante de quatro períodos qualitativamente distintos, ou seja, não podemos saltar estádios nem passar por eles numa ordem diferente. Mesmo assim, pode variar a idade em que atingimos cada estádio. Esta organização do desenvolvimento em estádios significa que a ordem de progressão não varia e que todos os seres humanos seguem uma previsível série de transformações.

 

Factores gerais do desenvolvimento cognitivo

 

Primeiro factor, a hereditariedade, a maturidade interna. Este factor deve com certeza ser considerado sob todos os pontos de vista, mas é insignificante, porque não actua isolado.

Segundo factor, a experiência física, a acção sobre os objectos. Constitui também um factor essencial, que não se trata de subvalorizar, mas que por si só é insuficiente. A lógica da criança em especial, não vem da experiência dos objectos, mas sim das acções exercidas sobre os objectos, o que não é de maneira nenhuma a mesma coisa, pois a parte activa do indivíduo é muito importante, e não basta a experiência extraída do objecto.

Terceiro factor, a transmissão social, o factor educação no sentido lato. É determinante no desenvolvimento mas por si só insuficiente, porque para que haja uma transmissão entre adulto e criança, ou entre o meio social e a criança educada, é necessário que haja também uma assimilação pela criança do que se pretende inculcar-lhe de fora. Esta assimilação é sempre condicionada pelas leis deste desenvolvimento parcialmente espontâneo.

Há um quarto factor chamado equilibração, em que é necessário todo um jogo de regulações e de compensações para chegar a uma coerência. A equilibração é a compensação por reacção do indivíduo às perturbações exteriores, compensação que conduz à reversibilidade operatória no final deste desenvolvimento.

O desenvolvimento cognitivo, processando-se por estádios cuja ordem de sucessão é invariante e cujas aquisições são progressivamente mais complexas, é influenciado pela acção combinada dos factores indicados por Piaget.

Os factores explicativos do desenvolvimento cognitivo segundo Piaget são:

  • A hereditariedade e a maturação física : Piaget refere-se a mudanças biologicamente determinadas no desenvolvimento físico e neurológico que ocorrem de forma relativamente independente em relação às experiências.
  • A experiência : Piaget  entende que não é o simples registo passivo dos dados da experiência mas sim a  actividade do sujeito sobre os objectos (física e mental) que permite distingui-los e organizá-los. Através dessa actividade dá-se a formação de estruturas ou de esquemas que possibilitem a acção e a compreensão da realidade.
  • A transmissão social : Piaget refere-se ao processo através do qual somos influenciados não pela nossa actividade própria mas pelo contexto social, pela observação dos outros e pela educação.
  • A equilibração : Cada novo estádio define-se pelo surgimento de novos esquemas e estruturas (ou vice-versa) mais complexos. A equilibração  assegura formas de equilíbrio cada vez mais estáveis na adaptação ao meio.

Para Piaget o desenvolvimento cognitivo implica que a actividade do sujeito na interacção com o meio responda aos desequilíbrios cognitivos procurando atingir um estado de equilíbrio entre a assimilação e a acomodação, mecanismos de adaptação ao meio.

 

Como se processa o desenvolvimento cognitivo? Os instrumentos e os processos fundamentais.

Piaget, devido á sua formação em Biologia, via o desenvolvimento cognitivo á imagem dos processos biológicos. A necessidade de conhecer é um impulso inato, uma manifestação particular da necessidade de sobrevivência. Como necessitamos de uma adaptação ao meio para sobrevivermos, o desenvolvimento cognitivo é uma forma de adaptação ao meio. A adaptação cognitiva ao meio implica mudanças estruturais e funcionais que aumentem as probabilidades de sobrevivência do organismo individual. Existem quatro conceitos da teoria de Piaget sobre este processo adaptativo : o conceito de esquema, assimilação, acomodação e de equilibração.

 

Esquemas

 

Ao nascermos não temos nenhum conhecimento sobre as pessoas e aos objectos do mundo a que teremos que nos adaptar. Porém, adquirimos conhecimentos de forma progressiva, por mais simples que sejam no início. É a actividade reflexa que assinala o despontar da adaptação cognitiva. Esta faz-se através de esquemas baseados em reflexos inatos como por exemplo agarrar.

Os esquemas são padrões de comportamento e de pensamento que organizam a nossa interacção com o meio. São padrões de acção e estruturas mentais que, organizando a nossa experiência, estão envolvidas na aquisição de conhecimentos.

Nos primeiros meses de vida os esquemas baseiam-se em acções. Os objectos são agrupados conforme as acções que as crianças realizam. Ao experimentarem os objectos criam categorias de objectos que podem ter a mesma função. É a forma de as crianças marcarem mentalmente os objectos com os quais se relacionam.

 

Assimilação e acomodação

 

Os esquemas mudam constantemente ou consolidando-se ou transformando-se noutros mais complexos, adaptando o sujeito á sua crescente e cada vez mais diversificada interacção com o meio. Segundo Piaget a adaptação cognitiva ao meio implica a intervenção combinada de dois processos : a assimilação e a acomodação.

A assimilação é o processo que integra ou incorpora novas informações e experiências em esquemas já existentes. A assimilação verifica-se quando usamos esquemas existentes para dar sentido aos novos acontecimentos e experiências. Através da assimilação respondemos a uma nova situação de modo semelhante ao que adoptámos numa situação familiar, sem necessidade de modificar os esquemas existentes. Há assimilação quando um novo objecto ou situação suscita uma actividade que já faz parte do nosso reportório. Por exemplo, os bebés usam o esquema da sucção não só para se alimentarem como também para chuchar no dedo. Quando temos de alterar os esquemas existentes para responder a uma nova situação dá-se a acomodação. A acomodação é o processo de ajustamento dos esquemas existentes (ou de criação de novos) quando as novas informações e experiências não podem ser assimiladas. Se os dados não podem ser incorporados nos esquemas existentes é necessário o desenvolvimento de esquemas ou estruturas mais apropriadas. Por exemplo, a criança que aprendeu a agarrar diversos objectos de pequena dimensão com uma mão rapidamente se apercebe que outros só podem ser agarrados com as duas mãos, e até que alguns não podem ser levantados. Piaget afirmou que não existe assimilação sem acomodação. Queria dizer que mesmo quando assimilamos tal actividade exige um mínimo de acomodação. Um esquema como o da sucção utilizado para tirar leite de um biberão pode ter de sofrer ligeiras alterações quando se muda de tetina e esta tem outra dimensão e formato. Em suma, adaptamo-nos a diversas e cada vez mais complexas situações usando os esquemas existentes sempre que estes se revelam funcionais e dão sentido aos novos dados (assimilação) e modificando os esquemas utilizados sempre que a resposta às situações o exigir (acomodação).

 

A equilibração e o desenvolvimento cognitivo

 

O desenvolvimento cognitivo tem como fundamento o desejo natural de assegurar um estado de equilíbrio interno face a um meio em constante transformação. A procura ou tentativa de obter esse estado de equilíbrio chama-se equilibração. Que equilíbrio se procura? O equilíbrio entre acomodação e assimilação. Mas a procura do equilíbrio não é sinónimo de estagnação, pois é o motor do desenvolvimento cognitivo porque conduz a níveis superiores de adaptação. O desequilíbrio cognitivo é uma espécie de conflito interno que motiva o sujeito para a aquisição de novas competências e conhecimentos, de novos esquemas e estruturas cognitivas.

Piaget dividiu o desenvolvimento cognitivo em quatro grandes estádios, caracterizados por níveis de adaptação qualitativamente distintos que são possíveis devido ao progressivo surgimento de novos esquemas, construídos a partir das experiências do sujeito em estádios precedentes.

 

Os estádios do desenvolvimento cognitivo

 

No seu estudo do processo de adaptação em que o desenvolvimento intelectual consiste, Piaget distinguiu períodos qualitativamente diferentes a que chamou estádios. São quatro os estádios do desenvolvimento cognitivo ou intelectual:

Estádio da inteligência sensório-motora (do nascimento aos 2 anos)

Estádio da inteligência pré- operatória (dos 2 anos aos 7 anos)

Estádio das operações concretas (dos 7 anos aos 11 anos)

Estádio das operações formais ou abstractas ( dos 11 anos em diante)

As idades são aproximativas porque pode haver diferença quanto á altura em que cada criança muda de um estádio para o outro. Porém, as diferenças cronológicas não significam que não haja uma sequência ordenada e constante. Se aos 20 meses se pode estar no estádio pré operatório, a ordem de sucessão é igual para todos os indivíduos.

 

O estádio sensório-motor

 

O primeiro estádio do desenvolvimento cognitivo é assim denominado porque a inteligência da criança desenvolve-se através de acções motoras e de actividades perceptivas (baseadas nos sentidos) que captam impressões sensoriais. Piaget considerava que este período, em que ocorre um extraordinário desenvolvimento intelectual, era decisivo para todo o seguimento da evolução psíquica. O estádio sensório-motor é o período em que a inteligência é totalmente prática. O desenvolvimento cognitivo inicia-se com esquemas de acção reflexa, tais como agarrar e chuchar. Por terem flexibilidade, estes esquemas rapidamente sofrem modificações e ajustamentos (acomodação) em resposta ás diversas experiências. Progressivamente a criança constrói o seu reportório de actividades, os esquemas tornam-se menos reflexos. Assim, a criança acomoda a sua boca de modo diferente conforme os objectos : levar a ponta do lençol á boca não é o mesmo que chuchar no dedo. Estas actividades simples assinalam o começo do reconhecimento dos objectos do mundo. Do 1º ao 4º mês as actividades da criança centram-se principalmente no seu próprio corpo. Por exemplo agitar os braços é algo que cativa a atenção da criança. Do 4º ao 8º mês desenvolve-se a coordenação entre as actividades perceptiva e motora. Já consegue agarrar um objecto que avistou e está ao seu alcance. O mundo dos objectos externos que constituem o seu ambiente desperta o interesse da criança, e as actividades já não são centradas no seu corpo. Contudo os novos comportamentos não são produzidos deliberadamente, ou seja, a criança ainda não escolhe um esquema como meio para atingir um fim. Descobre as coisas por acaso. Do 8º ao 12º mês aperfeiçoa-se a coordenação motora (a conexão entre os esquemas motores). A acidental ocorrência de novos comportamentos dá lugar ás primeiras formas de comportamento intencional, despontando a originalidade no confronto com obstáculos. Em vez de um simples prolongamento de actividades interessantes, assistimos agora a um uso intencional dos esquemas para atingir um objectivo. Através de uma assimilação generalizada um comportamento aprendido numa determinada altura é utilizado numa nova situação, diferente mas suficientemente parecida para que o comportamento aprendido seja apropriado aos interesses da criança. Do 12º ao 18º mês desponta o comportamento de tipo experimental. No sub-estádio anterior a criança era capaz de combinar esquemas intencionalmente, mas somente conseguia combinar um par de cada vez e unicamente quando ocorria uma situação propícia ao uso dessa combinação. Agora e como resultado do desenvolvimento da capacidade de coordenação dos esquemas, já não se trata de repetição de antigos esquemas com novos objectos. Se uma acção produz o resultado desejado, não será simplesmente repetida mas modificada de modo a verificar que outros efeitos podem dela resultar. Com a planificação que minimamente é necessária a estes comportamentos experimentais é também exigida uma crescente aptidão para representar objectos e situações. Do 18º ao 24º mês entra-se numa fase de transição. Podemos dizer que termina o estádio sensório-motor e se inicia o estádio pré-operatório ou do pensamento representativo. Que acontecimento marca o fim do estádio sensório-motor? O desenvolvimento completo da noção de permanência do objecto. Até aos 8 meses a criança não tem noção que um objecto continue a existir independentemente da sua acção e da sua percepção. Fora de vista significa assim fora da existência. Quando um brinquedo desaparece do campo de visão da criança é como se tivesse deixado de existir, e quando aparece é como se tivesse sido recriado. O conceito de permanência do objecto é lentamente construído a partir dos 8 meses como resultado da crescente interacção motora, perceptiva e sensorial da criança com o meio, mas também devido á maturação do sistema nervoso. Por volta dos 18 meses estará plenamente adquirida a convicção de que fora do alcance não significa fora da existência nem fora do pensamento. Nesta fase a criança será capaz de antecipar mentalmente os resultados de uma acção sem recorrer á experimentação ou manipulação material dos objectos.

Qual o significado desta aquisição? O que está nela implícito? O nascimento da capacidade de representação simbólica que torna possível pensar e falar de objectos que estão fora do campo da sua percepção imediata. Assinalando os limites funcionais dos esquemas sensório-motores e por isso o fim do estádio da inteligência prática, a capacidade de representação simbólica permite formar imagens mentais de objectos e acções quando aqueles não estão presentes e estas não ocorrem efectivamente. Assim pessoas e acontecimentos que a criança presenciou serão imitados posteriormente. Piaget denominou imitação diferida a este comportamento. A capacidade de simbolização é um acontecimento notável porque com ela surgem e desenvolver-se-ão o pensamento e a linguagem. Além disso possibilitando a ultrapassagem do egocentrismo sensório-motor, isto é, a crença ilusória de que a existência dos objectos depende das acções do sujeito, abre o caminho á formação de um auto-conceito : a criança apercebe-se de que a existência estável não é simples atributo dos objectos e das outras pessoas mas também seu.

 

O estádio pré-operatório

 

A capacidade de representação simbólica assinala o termo do estádio sensório-motor e o começo do estádio pré-operatório, que é marcado pelo início do pensamento. A criança começa a desenvolver a capacidade de representar mentalmente objectos ausentes. Não se limita a agir sobre eles mas representa-os, substitui-os por símbolos que valem por esses objectos. Da inteligência prática passamos á inteligência representativa ou pensamento.

Piaget considera que este estádio é constituído por 2 períodos distintos:

A fase do pensamento pré-conceptual centrado na imaginação e por ela dominado (dos 2 aos 4 anos)

A fase do pensamento intuitivo centrado na percepção dos dados sensoriais e a ela submetido (dos 4 aos 7 anos)

A característica geral do pensamento pré-operatório e a razão de ser das suas limitações é a centração ou egocentrismo. Ao longo deste estádio o pensamento egocêntrico vai-se atenuando mas não o suficiente para que dê lugar ao pensamento lógico ou dotado de reversibilidade.

 

O pensamento pré-conceptual

 

Nesta fase as crianças parecem pouco preocupadas com a realidade, sendo o seu mundo bastante imaginativo. O pensamento é dominado pela imaginação, isto é, a relação da criança com a realidade centra-se na sua imaginação, desejos e fantasias. Esta omnipresença da imaginação e da fantasia permite compreender que o pensamento pré-conceptual seja essencialmente um pensamento mágico que transforma o imaginário em realidade. O egocentrismo da fase pré-conceptual significa que há uma incapacidade em distinguir claramente acontecimentos psicológicos de acontecimentos físicos ou externos, o que traduz uma significativa indiferenciação entre o sujeito e a realidade exterior. Várias características mentais resultam do predomínio do pensamento mágico :

O animismo – tendência para atribuir aos objectos qualidades psicológicas.

O realismo – tendência para atribuir a realidades psicológicas uma existência física.

O artificialismo – tendência para acreditar que os objectos físicos ou naturais foram feitos por pessoas.

O finalismo – tendência para acreditar que nada acontece por acaso e que tudo tem uma justificação, existe em função do fim que cumpre.

 

O pensamento intuitivo

 

Neste período pré-operatório há uma redução do egocentrismo porque o pensamento já não é dominado pela imaginação mas sim pela percepção. Contudo o egocentrismo continua a condicionar o funcionamento intelectual. Há várias evidências dessa continuidade:

O raciocínio pré-causal – traduz a dificuldade de entendimento das relações causa-efeito.

Dificuldade em distinguir uma classe de objectos de um único objecto. Confunde o todo com uma das suas partes, o geral com o particular, identificando todos com alguns. Prevalece o raciocínio transdutivo, isto é, não abandona o plano do particular, não atinge o conceito geral.

Piaget afirmava que antes dos 7 anos a classificação de objectos quanto a múltiplos aspectos e a compreensão das relações entre classes ultrapassavam a competência das crianças. Noutros termos, o pensamento pré-conceptual somente será superado quando surgir o pensamento lógico.

O pensamento pré-operatório é caracterizado pela irreversibilidade isto é, pela incapacidade de mentalmente inverter uma sequência de factos e de operações regressando ao ponto de partida. Por isso, há dificuldades evidentes em compreender conceitos como a conservação da quantidade, do volume ou do número.

 

O estádio das operações concretas

 

A característica mais importante é que o pensamento e o raciocínio ultrapassam a fase pré-lógica. Surge uma forma de pensar qualitativamente distinta porque a actividade intelectual já não se submete aos dados da intuição mas sim a regras lógicas. Contudo, mesmo não sendo a percepção a comandar o funcionamento intelectual, ainda é um ponto de referência indispensável, pois o pensamento lógico ainda não se separou da realidade concreta. No estádio das operações concretas, as operações lógicas efectuam-se sobre objectos e eventos presentes ou pelo menos dos quais já se teve experiência. A aquisição do conceito de conservação – a capacidade de mentalmente representar a estabilidade no seio da mudança, é o sinal de que a fase pré-operatória foi ultrapassada. O conceito de conservação é compreendido enquanto aplicado a um determinado objecto concreto e não como aplicação de uma regra geral, aplicável a qualquer objecto. Para tal é necessário que o raciocínio dedutivo se desenvolva. Segundo Piaget as aquisições do estádio das operações concretas derivam de uma transformação estrutural no modo de pensar denominada descentração. A descentração significa que se é capaz de considerar mais do que um atributo de um objecto e de formar conceitos segundo vários critérios. Não se centrando numa única propriedade de um objecto a criança adquire a noção de conservação, isto é, compreende que alterações em dada dimensão podem ser anuladas, ou melhor compensadas em outra dimensão. Esta capacidade de mentalmente anular uma mudança aparente significa que o pensamento se tornou reversível. A noção de necessidade lógica desenvolve-se claramente, assistindo-se a um acentuado declínio do egocentrismo. A reversibilidade dos esquemas mentais possibilita também a compreensão do conceito de causa e o raciocínio causal. A classificação é outra operação dominada durante este estádio. Organizar uma colecção de selos é um exemplo dessa aquisição. A seriação é outra das aquisições do estádio das operações concretas e corresponde á ordenação sequencial de objectos segundo um critério. Durante este período do desenvolvimento cognitivo começa a formar-se o raciocínio lógico indutivo, o processo cognitivo que consiste em atingir um princípio geral a partir dos dados empíricos particulares. Contudo o pensamento lógico neste estádio ainda está demasiado preso á realidade concreta e física. É um tipo de pensamento cujo funcionamento lógico se baseia em situações e objectos concretos que podem ser manipulados, classificados e organizados. O pensamento lógico- abstracto hipotético- dedutivo baseado em hipóteses possibilidades e princípios gerais ainda está a caminho.

 

Estádio das operações formais

 

A característica distintiva deste estádio é o pensamento formal, hipotético-dedutivo. O indivíduo passa a deduzir conclusões a partir de hipóteses e já não apenas da realidade concreta. Pode agora considerar estados hipotéticos que podem ser ou não reais, e pensar de forma dedutiva o que aconteceria se fossem verdadeiros como seriam as coisas se certas possibilidades se tornassem realidade. A abertura do pensamento ao possível amplia as suas próprias possibilidades de exercício. A aptidão para aplicar operações mentais a situações hipotéticas desenvolve o pensamento abstracto e conduz o adolescente a elaborar teorias, mais ou menos sistematizadas, sobre entidades abstractas como a justiça, a liberdade, a felicidade, a moralidade, o amor. A distinção entre o real e o possível dá origem a debates sobre questões morais e filosóficas, a imaginar mundos diferentes e diferentes ocupações na vida e a questionar a realidade, sob múltiplos aspectos, tal como ela é.

 

 

in: Sebenta de Psicologia do 1º ano

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publicado por olharovazio às 18:45
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